tag:blogger.com,1999:blog-22729546761425935972024-03-13T16:34:08.800+00:00INÊS SILVAINÊS SILVAhttp://www.blogger.com/profile/05081956552425446838noreply@blogger.comBlogger46125tag:blogger.com,1999:blog-2272954676142593597.post-74834425763114207472014-01-26T10:35:00.000+00:002014-01-26T10:35:33.071+00:00O CEERIA <div style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">O CEERIA está no centro de Alcobaça. Visitei-o num destes
dias. Sob chuviscos que teimavam em cair, percorri os vários espaços interiores
e exteriores, acompanhada pelos seus dirigentes e duas técnicas. Fiquei a saber
que este Centro de Educação Especial, Reabilitação e Integração de Alcobaça
apoia cerca de 500 pessoas com deficiências e incapacidade e suas famílias. A
sua importância como estrutura social no concelho é de tal ordem grandiosa que
qualquer descrição que dela pudesse fazer seria insuficiente. Por isso falo
apenas do sol que encontrei em cada rosto com que me cruzei. Falo do João Carreira,
e da forma como me apresentou os vestidos que concebe para as passagens de
modelos. São vestidos feitos de mar, de areia e de folhas. Autênticas obras de
arte. Falo também da Carolina, que é uma grande atleta, a correr e a cantar na
passadeira do ginásio. E da Tânia, que me emprestou a tartaruga que tinha junto
do coração na sala de relaxamento. Não me posso ainda esquecer do grupo
fantástico que conduzia uma canoa na sala de ginástica. O Rodrigo ia à frente e
segurava o remo. Atrás, a empurrar, a Ana Sofia, a Mónica e o Paulo Zé. De repente
a canoa partiu-se. A professora prontamente uniu as partes e a aventura continuou.
Conheci ainda o Vânio, a festejar os dezoito anos na piscina terapêutica. Depois
de um mergulho, batemos palmas. Fantástico. Como ficou feliz. Na oficina de
Azulejo, colada numa porta, a notícia: o CEERIA alcançou o 1.º lugar de
escultura no 6.º Concurso Nacional “Reabilitar através da Arte”, com um
trabalho intitulado “A bicicleta”. Outros prémios virão, a adivinhar pelos
projetos que os vários artistas ali faziam. <o:p></o:p></span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Foram estes, entre muitos outros, os rostos de sol que
encontrei num dia chuvoso e nublado. <o:p></o:p></span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">No final, recebi o boletim informativo do CEERIA, onde li,
na primeira página, o seguinte: “muitos dos jovens a quem dirigimos a nossa
atenção não têm os corpos ágeis e vigorosos, que todos nos forçamos por
possuir. Algumas destas pessoas têm corpos que não queremos olhar, corpos que
nos perturbam, dos quais nos afastam porque nos fazem sofrer… e todos nós temos
medo do sofrimento”. Mas também li que “se nos permitirmos aproximar do que nos
causa medo, do que não queremos ver ou tocar, confrontar-nos-emos com o que não
foi possível até aí e «portas de esperança se abrirão»”. <o:p></o:p></span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Este é, de facto, o caminho.<o:p></o:p></span></div>
<br />
Região de Cister, 23.01.2014INÊS SILVAhttp://www.blogger.com/profile/05081956552425446838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2272954676142593597.post-46846375697507245372014-01-26T10:32:00.001+00:002014-01-26T10:32:40.622+00:00Deolinda
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Calibri;"><o:p></o:p></span></b> </div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p><span style="font-family: Calibri;">O <i style="mso-bidi-font-style: normal;">mundo pequenino</i>
dos Deolinda fez vibrar o Cine-Teatro no último sábado. Casa cheia, boa
disposição, muitas palmas. Duas jovens não resistiram ao ritmo das letras e
músicas de Pedro da Silva Martins e dançaram no corredor. Este impulso mostra
que, de facto, foi difícil manter<i style="mso-bidi-font-style: normal;">
pequenino</i> o mundo grande dos Deolinda, um mundo de histórias que
sublimemente contaram e cantaram.<o:p></o:p></span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Uma das histórias passou-se em Joanesburgo. Contou Ana
Bacalhau que, ao decidirem ir cantar a esta cidade, foram avisados dos muitos perigos
ali existentes. Não deveriam, pois, andar sozinhos na rua, falar com estranhos,
sair do hotel, etc., etc. O medo foi tanto que resolveram não se afastar do
local onde estavam hospedados. Sucedeu que arriscaram e foram a uma loja de
tecidos. De repente, viram alguém a acenar-lhes ao longe. Resolveram disfarçar
que não tinham reparado no indivíduo que teimava em fazer os mais diversos
sinais. Mas este, sem desistir, foi-se aproximando. Os Deolinda, cheios de
medo, apressaram-se a entrar no carro e quando estavam prestes a fugir, eis que
o presumível gatuno lhes disse que queria devolver uma nota, porque tinha caído
de um deles. Este episódio deu origem à canção “Medo de Mim”. <o:p></o:p></span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">É assim um disparate ter-se medo. E foi sem medo que os
Deolinda pisaram o palco do Cine-Teatro e abriram um ano de espetáculos que
muito promete e para os quais estão todos convidados. Há que ouvir as histórias
que os artistas têm para nos contar. A arte, mais do que ilusão ou ficção, é a
realidade que nos faz sentir vivos e felizes. Sem medo.<o:p></o:p></span></div>
Tinta Fresca, 20.01.2014<br />
<a href="http://www.tintafresca.net/News/newsdetail.aspx?news=48a92951-f1c5-423e-aa11-db011cc0c965&edition=159">http://www.tintafresca.net/News/newsdetail.aspx?news=48a92951-f1c5-423e-aa11-db011cc0c965&edition=159</a>INÊS SILVAhttp://www.blogger.com/profile/05081956552425446838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2272954676142593597.post-90597567517951535862013-09-27T10:15:00.001+01:002013-09-27T10:17:09.613+01:00Porque devemos votar<div class="MsoNormal">
Conheci recentemente uma personagem que me encantou.
Chama-se “senhor Silva”, é o protagonista do livro <i>a máquina de fazer espanhóis</i>, de valter hugo mãe. Trata-se de um
octogenário que vai viver para o lar de terceira idade “Feliz Idade”, depois de
ter ficado viúvo e de ter tido um AVC. Os filhos, cuja preocupação nuclear é a
carreira profissional e as exigências da vida moderna, revelam-se ao leitor
como jovens incapazes de albergar a geração mais velha dentro de casa. O senhor
silva sente-o e desespera-se. Viúvo, com muitas saudades da mulher, faz o balanço
de uma vida cuja fase adulta começara no Estado Novo e se desenvolvera na
Democracia. Fora sempre dedicado aos filhos e à sua Laura, que preferia “<i>que nunca nos arriscássemos a nada. era o
modo que tinha de fazer a sua parte pelo mundo. não bulir com alguma coisa. não
arranjar nem querer confusões. por isso não gostava que eu discutisse com ela
as coisas da política. queria que a política não fosse um assunto lá de casa.
Haveríamos de apreciar a poesia, o folclore e uns fados, haveríamos de ter
passeios aos domingos e brincar com os miúdos a crescerem e era assim a nossa
vida, sem beliscar os tubarões que nos podiam ferrar. eu, apaixonado,
enternecia-me com ela e deixava-me ficar porque lhe reconhecia prudência, uma
sabedoria que vinha da família, de colocar a família no centro das coisas. eu
deixava que a sociedade fosse apodrecendo sob aquele tecido de famílias de bem,
um mar imenso de famílias de aparências, todas numa lavagem cerebral social que
lhes punha o mundo diante dos olhos sublinhados a lápis azul</i>” (p.156). <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Foi por tudo isto que o senhor Silva denunciara à PIDE um
jovem que se escondera na sua barbearia. Foi por tudo isto que, já mais tarde,
em plena Democracia, o senhor silva, por medo de represálias dos sucessivos
governos, evitou assumir as suas convicções políticas e se foi esquivando da
intervenção pública. Mas essa timidez e falta de coragem com que viveu toda a
sua vida levam-no a sentir uma terrível frustração no “Feliz Idade” – tão
terrível que faz dó.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Nasci em 1970. Faço parte de uma geração que teve a grande
sorte de não se ter desenvolvido no Estado Novo. Assim sendo, não percebo o
receio que invade todos os que dizem “não gosto de política”, “não me interesso
por política”, “a política não me diz nada”, “não sou de qualquer partido”.
Criticar os políticos, assim como se criticam profissionais das várias áreas,
como médicos, cabeleireiros ou carteiros, quando sentimos na pele a ineficácia
dos serviços que prestam, parece-me menos mal. Mas recusar qualquer tipo de
intervenção social, que é sempre cívica e, portanto, política, é anularmos os nossos
direitos de liberdade, que as gerações passadas conquistaram com tanto custo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A escolha é simples: ou seguir o caminho do senhor silva, um
cidadão que apenas tratou de si e dos seus e, para “evitar sujar-se”, recusou
sempre intervir e se refugiou no conforto fácil; ou seguir o caminho da
cidadania ativa, da intervenção, da participação política, da recusa da
abstenção. <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
Escolher o segundo caminho é, decerto, mais difícil. Mas se o senhor
Silva pudesse voltar atrás, era o que faria.<span style="font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><o:p></o:p></span></div>
INÊS SILVAhttp://www.blogger.com/profile/05081956552425446838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2272954676142593597.post-88217561702812992902013-09-16T12:25:00.002+01:002013-09-27T10:15:41.478+01:00Atuar socialmente<div class="MsoNormal">
Dezanove anos. Chamava-se Bernardo. Bombeiro em Carregal do
Sal. Filho único. Morreu ao serviço de todos nós, vítima da força do fogo
cruel. Foi a sétima vítima. Antecedeu a morte de um outro bombeiro, desta vez
de Miranda do Corvo. Até agora, foram oito as vidas ceifadas pelo fogo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O país, sempre que recebe a
notícia da morte de um bombeiro, sente uma dor imensa. Chora com as famílias
das vítimas. Questiona a justiça nesta vida. Como é possível tal acontecer? São
homens e mulheres que, voluntariamente, acorrem a salvar as florestas, os campos
agrícolas, as povoações, as casas onde vivemos. Como é possível que uma ação
tão nobre os conduza à morte? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Por muito que tente, o país jamais
conseguirá enaltecer a ação dos milhares que este ano, mais uma vez, avançaram
contra as chamas. Ou esquecer os que partiram, corações nobres, solidários,
valorosos, que representam o que de mais humano há na sociedade. Contudo, a dor
aumenta quando percebemos que os incêndios não dependem diretamente da falta de
meios. São um problema social, de resolução difícil. Falo dos “incendiários”, aqueles
que por vingança, por estupidez, por doença resolvem atear a fogueira fatídica.
Falo dos adolescentes e jovens que andam à deriva, sem acompanhamento, sem
atenção, sem objetivos. Falo dos irresponsáveis que lançam foguetes, ignoram a
limpeza dos solos, queimam lixo indevidamente. Falo dos que se maravilham com
as sirenes, as câmaras de televisão e toda a envolvência do fogo-fátuo no mágico
ecrã. Assim sendo, os incêndios são um problema da sociedade, que requer a intervenção
de todos. Essa intervenção reside na educação cívica, na transmissão de
valores, na vigilância permanente dos que necessitam de apoio, na ajuda ao
próximo. A essa intervenção chamo “ação social”, que, no fundo, é a ação humana
com preocupações sociais. É a ação que cabe a todos nós desenvolver, sejamos polícias,
psicólogos, autarcas, professores, pais… simples cidadãos. Para podermos sentir
como nossa a dor dos que partem ao serviço da humanidade, temos de desempenhar
o nosso papel na prevenção do problema que os faz partir.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<a href="http://www.tintafresca.net/">http://www.tintafresca.net/</a><br />
15.09.2013<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
INÊS SILVAhttp://www.blogger.com/profile/05081956552425446838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2272954676142593597.post-28137041631131747262013-09-04T10:28:00.000+01:002013-09-27T10:15:29.517+01:00Pensar a escola em tempo de verão<div class="MsoNormal">
Agosto é, por excelência, o mês das férias escolares. Sem
aulas, testes, exames, horários e rotinas diárias, onde se encaixam os tempos
letivos e não letivos, as atividades extracurriculares, horas de estudo e
trabalhos de casa, pais e alunos aproveitam para descansar. Apesar de alguns
sinais de que o novo ano de avizinha, quer pelas campanhas do “regresso às
aulas”, quer pelas habituais reportagens televisivas feitas nas livrarias e
grandes superfícies, onde se questionam os encarregados de educação sobre
quanto vão gastar em livros e material didático (o que é, de facto, uma grande
preocupação), a tendência é mesmo gozar o mês de agosto, de forma a carregar
baterias para o ano letivo que se avizinha.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Curioso é, contudo, verificar como o tema da “escola” nunca
está ausente das conversas de familiares e amigos, sempre que há uma criança ou
um jovem por perto. Debaixo do chapéu de praia ou num encontro de café, alguém
pergunta: <i>Para que ano vai o teu filho?</i>,
<i>Que área de estudos escolheu?</i>, <i>Que curso pretende tirar?</i>, etc., etc.. E
a partir daqui a conversa vai-se desenvolvendo. Depois de respostas como <i>o meu filho passou para o 8.º</i>, <i>a minha filha vai tentar subir a nota a
matemática</i>, os pais contam experiências bem-sucedidas ou problemas mal
resolvidos, partilham angústias, dão conselhos aos que os pedem. Porque, de
facto, a melhor escola para pais está muitas vezes no conhecimento que se vai
adquirindo de outros pais, que viveram problemas idênticos ou que passaram por
angústias semelhantes. <span style="background: lightgrey; mso-highlight: lightgrey;">É,
pois, percebendo o que falhou com outras crianças ou jovens que os encarregados
de educação ficam mais esclarecidos, mais atentos aos problemas dos seus filhos
e, desta forma, melhor se consciencializam do que podem fazer para levar a bom
porto este enorme desafio que é a educação.</span> <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
As conversas de verão são, assim, uma forma de começar a
preparar o próximo ano letivo. No entanto, as boas ideias que nelas surgem não
devem ficar enterradas na areia. Devem, sim, ser o mote para uma reflexão
conjunta a levar para a escola e a partilhar com todos os agentes educativos, antes
de o outono começar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Publicado em 2 setembro de 2013 3em <a href="http://www.tintafresca.net/">http://www.tintafresca.net/</a></div>
INÊS SILVAhttp://www.blogger.com/profile/05081956552425446838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2272954676142593597.post-69018619751775861782012-12-16T13:10:00.000+00:002012-12-16T13:10:21.094+00:00As lições que ficam
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Lembro-me de há uns quinze anos
uma turma queixar-se de uma professora de matemática. Diziam os alunos que ela
permanentemente se fixava na janela e se esquecia deles. Eu, como diretora de
turma, teria de resolver o problema. Mas ela estava deprimida e assustada, não
com a crise dos tempos de hoje, claro, mas com outra, para a qual não
encontrava solução. E eu também não sabia como ajudar. Os alunos não
compreendiam. Para eles, ela era medíocre. E eu, que não resolvia o caso,
também. “Não se brinca com um 11.º ano”, diziam. “Eu quero entrar em medicina”,
acrescentava um. “E eu preciso de boa nota a matemática, que é a específica”,
acrescentava outro. “Façam os exercícios do manual que ela vai pedindo”, dizia
eu, sem mais inteligência. Mas face a esta sugestão, contaram-me logo a
história do dia anterior: depois de terem entrado na aula, a professora
pediu-lhes que fizessem os exercícios de uma determinada página e logo fixou o
olhar na janela, no Outro lado que, decerto, apaziguava tudo aquilo que a
emudecia. Passados minutos, um dos alunos perguntou-lhe:<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">- Afinal, qual é a página, stôra?<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">- Ah? Ah, sim… é… é uma qualquer.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Para ela, qualquer página servia.
Mas para eles não. Porém, apesar desta adversidade, os alunos lá foram
caminhando até ao fim do ano e até ao fim de muitos outros anos, com a
determinação que não encontraram na professora. Contudo, hoje, já médicos,
engenheiros, veterinários, também olham pela janela à procura do Outro lado, o
lado que alivia as tensões maiores. E agora percebem a resposta da professora.
Em certos momentos da vida, qualquer página serve para a nossa história. A falta
de perspetiva de futuro a isso leva.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> Publicado no Correio da Educação - Edições Asa</span></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<a href="http://correiodaeducacao.asa.pt/285868.html">http://correiodaeducacao.asa.pt/285868.html</a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"></span></o:p> </div>
INÊS SILVAhttp://www.blogger.com/profile/05081956552425446838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2272954676142593597.post-84665450878349456682012-09-29T21:17:00.001+01:002012-09-29T21:17:11.591+01:00
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">O professor catedrático Alberto Amaral, ex-reitor da
Universidade do Porto, deu a sua última lição na Faculdade de Ciências deste
estabelecimento de ensino, noticiou a TSF, e confessou estar «envergonhado» com
a herança que o país deixa «às novas gerações».<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Ingressei na Universidade do Porto, no curso que escolhi em
primeiro lugar, Línguas e Literaturas Modernas, variante de Estudos Portugueses,
era então Alberto Amaral o reitor. Eu estava decidida a estudar Linguística,
Literatura Portuguesa, Literatura Brasileira, Literaturas Africanas,
Literaturas orais e marginais, Literatura Italiana, História Portuguesa,
Cultura Portuguesa, etc., etc... para poder dedicar a minha vida ao ensino das
letras, embora a tendência na altura já caísse para o lado da gestão, da
economia e da finança. No entanto, o lucro fácil e a ascensão social canina
ainda não era o pilar da vida da sociedade e a universidade do Porto, numa
expansão extraordinária, deu-nos disso sinal. As letras tinham o seu lugar. Pudemos
investir nas humanidades. Saímos professores orgulhosamente bem formados, para
formar bem os nossos jovens.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Hoje, há que reconhecê-lo, as letras são menosprezadas e
estão a ser abandonadas. As letras não enchem barriga, dizem-nos. Há
professores a mais, há investigadores a mais… O país não pode com tanto. Claro.
Claro. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Professor Alberto Amaral, também eu me sinto envergonhada
com a herança deixada às gerações que aí vêm. No entanto, quero que saiba que o
seu esforço não foi em vão.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No que me
toca, luto e lutarei pelo vigor das letras, remando contra todos os que as
acham inúteis. Ainda os hei de ver, no futuro, muito mais envergonhados do que
nós, quando quiserem um professor que ensine as primeiras letras aos filhos e
netos e tenham de o pedir emprestado ao estrangeiro, com juros insuportáveis.<o:p></o:p></span></div>
INÊS SILVAhttp://www.blogger.com/profile/05081956552425446838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2272954676142593597.post-15829199726578087422012-09-27T16:13:00.004+01:002012-09-29T21:11:32.480+01:00EspanhaMálaga, meados de agosto de 2012. O centro histórico enche-se de gente no início da tarde. As mulheres vestem o traje de flamenco e os homens o de campino. O calor humedece-lhe as roupas. Bebe-se. Bebe-se muito. O pavimento das ruas, à força do suor e do álcool caído dos copos e garrafas, forra-se de uma substância pegajosa. Chap, chap… mas não é por isso que os sapatos não avançam, não circulam, não dançam. A catedral olha a força do divertimento. As discotecas, de portas abertas, convidam os menos lúcidos. Os bares e restaurantes oferecem tapas. Os turistas pedem pimentos, tortilha de batata e peixe frito. É a força do espanhol que sai à tarde para, à noite, redobrar-se na Feira Cortijo de Torre.
<br />
<br />
Valência, finais de agosto de 2012. A tomatina, em Bunõl, salpica de vermelho os que nela querem dominar. Quer seja por crer no tomate, quer seja por curiosidade, quer seja por acidente, os que percorrem as ruas no molho do fruto do tomateiro redobram o ânimo, engordam a coragem, enaltecem o ego. Os turistas riem-se com os espanhóis e estes fazem-nos rir. Não se sabe quem, no passado, atirou o primeiro tomate a ponto de criar a tomatina. Mas quem quer saber isso? Se alguém o fez, fê-lo bem. Basta ir ao Google ler as propriedades do tomate.
<br />
<br />
Madrid, setembro de 2012. A festa continua. Sem trajes, sem tapas, sem alegria. As praças e ruas enchem-se de jovens que gritam “Basta!”. São empurrados do parlamento pela polícia. Chegam também os pais e os avós dos que gritam “Basta!”. São igualmente empurrados do parlamento pela polícia. A televisão mostra uma mãe. “Os nossos filhos estão a trabalhar no estrangeiro. Os que não foram e têm emprego temem que ele acabe”, diz. É empurrada do parlamento pela polícia. O parlamento é mantido limpo, sem substância pegajosa nos acessos e sem tomate nas paredes. Igual ao de Lisboa.
Outubro, 2012. Que a limpeza fique nos ecopontos e não nos pontos-chave da democracia.
INÊS SILVAhttp://www.blogger.com/profile/05081956552425446838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2272954676142593597.post-18259940656127862802012-03-08T23:29:00.002+00:002012-03-08T23:33:23.973+00:00O dia 8 de março e todos os outros diasO dia da mulher continua por festejar. Festejar o dia da mulher é festejar a mulher. Mas festejar a mulher é transformar diariamente em festa a sua coragem, a sua força, a sua energia para carregar às costas pesadas cargas. <br /><br />É a mulher que constrói o ninho, que o mantém quente, que o repõe no sítio após uma rabanada de vento. É a mulher que dá à luz, que traz alimento às crias, esgravatando na terra e mergulhando no mar, enquanto o companheiro se aventura em altos voos. É a mulher que chora quando as crias partem e lhe deixam uma pena como recordação. É a mulher que é destruída com as chuvadas ácidas provocadas pelo homem. É a mulher que vê o ninho cair quando o homem chega e corta, com um machado, a árvore pela raiz.<br /><br /><br />A mulher é sempre mulher, tanto hoje como nos outros dias. Mas poucos sabem disso.INÊS SILVAhttp://www.blogger.com/profile/05081956552425446838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2272954676142593597.post-66230280502020718422012-01-24T10:02:00.001+00:002012-01-24T10:07:38.463+00:00De casa à escolaO percurso casa-escola e escola-casa é feito diariamente por milhares de alunos, pais e professores, com uma certa fé de que o que vai acontecer a seguir vale a pena. Nesse mesmo percurso, tudo pode ser visto, caso o viajante não vá alheado do mundo, absorto nos seus pensamentos, a caminhar como um autómato, o que por vezes acontece.<br /> Em 1991, Maria vinha da escola no autocarro, distraída, muito distante dos outros passageiros, embora encostada a eles. Com dezassete anos, a vida espraiava-se à sua frente e a força do corpo para realizar o impossível aumentava em cada instante. Embora ciente da imperfeição do mundo, dado o facto de a mãe ter saído de casa meses antes, levando-a a ela e à irmã, por não aguentar mais os maus tratos do marido, Maria tinha esperança de que a separação fosse o início de uma nova vida para todos. <br /> Subitamente, a meio da viagem de autocarro, passou por um acidente que interrompeu os seus pensamentos. Ambulâncias, polícia, uma multidão a assistir chamaram a atenção dela e dos passageiros do autocarro, que logo se colaram ao vidro, comentando, lamentando. Maria acabou por não dar demasiada importância à situação, frequente em todos os percursos, e voltou aos seus pensamentos. Momentos mais tarde, veio a saber de quem eram os corpos que estavam a ser retirados do passeio: o da mãe, assassinada pelo pai com um revólver, e o do pai, que se suicidou em seguida com o mesmo revólver. Ao dirigir-se ao hospital, para onde os tinham levado, uma senhora, num guiché, disse-lhe que a mãe já entrara sem vida e que o pai estava em coma. Tempos mais tarde, num tribunal, o juiz colocou em cima da mesa a arma que tirou a vida aos seus pais. Hoje, Maria visita-os no cemitério. E quando a jornalista, no dia em que é lançada uma campanha nacional para combater o crime da violência doméstica, lhe pergunta, em frente às câmaras, se ela perdoou ao pai, decorridos vinte anos, ela diz que sim. “O amor de filha não se perde”, afirma. A forma como as mãos de Maria se contorciam a descrever a tragédia mostrava bem o sofrimento por que passou. Ficar sem pai e mãe no mesmo dia por culpa de um deles só pode ser suportado por alguém feito de amor. E saber perdoar é uma questão de amor. E de fé. Só estes podem vencer o ódio.<br /> Num destes dias, Alessandro deslocava-se de casa à escola, de autocarro, numa cidade italiana, absorto nos seus pensamentos, quando viu de repente um cartaz publicitário de uma marca de roupa, com o papa Bento XVI a beijar na boca o imã egípcio Ahmed el Tayyer. Mais à frente, viu um outro cartaz da mesma empresa, desta vez com Obama a beijar Hugo Xávez. Incrível. E ainda um outro, com Nicolas Sarkozy e Angela Merkel, e outro, com Mahmud Abbas e Benjamin Netanyahu. O slogan a acompanhar a publicidade era “O ódio nunca é apaziguado pelo ódio e só o anti-ódio pode apaziguar o ódio.” No dia seguinte, Alessandro deixou de ver os cartazes. Os anúncios "UNHATE" (não ao ódio) foram, pois, retirados. A polémica tinha-se instaurado. O Vaticano anunciara uma ação legal contra a fotomontagem, reacendera-se o debate em torno das campanhas polémicas, condenara-se a marca de querer chamar a atenção a todo o custo. Ora, ninguém beija quem não quer. O beijo forçado não é um beijo. É um encosto repugnante! <br /> Os efeitos de se verem inimigos a beijar-se na boca ainda duram. A polémica está longe de abrandar.<br />O que nos ensinam as viagens de Maria e de Alessandro sobre o amor e o ódio? Que têm estas duas histórias em comum? Possivelmente apenas o facto de ambas acontecerem no percurso casa-escola ou escola-casa. Ou talvez mais… Maria continua a beijar a campa do pai, por amor, enquanto outras mães são espancadas e mortas pelos próprios maridos, num silêncio duradouro. Alessandro procura perceber o que aconteceu aos cartazes, porque foram retirados na hora e porque se estendeu uma passadeira vermelha tão comprida ao ódio, com holofotes a iluminá-lo.<br /><br />Texto publicado hoje no Correio da Educação<br />www.asa.pt/CE/INÊS SILVAhttp://www.blogger.com/profile/05081956552425446838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2272954676142593597.post-68435820898951141022011-12-17T10:15:00.004+00:002011-12-17T18:22:42.995+00:00Postais de Natal<em>The protester</em>, o manifestante, foi a personalidade do ano, eleita pela <em>Time</em>. A capa da revista mostra a figura daquele que foi para as ruas em 2011, que se mostrou sem pejo, que se expôs aos perigos das balas, e que gritou: democracia! O manifestante é todo o anónimo que desafia a podridão dos factos consumados. É a coragem viva que defende a voz do pobre, do excluído, do fraco e do impotente. A manifestação das ruas é tão verdadeira como a água que ainda vai correndo pelos rios. É cristalina. Segue o seu curso natural. Dá vida àquilo que rodeia. Parabéns, manifestante!<br />A capa da revista <em>Time</em>, com o rosto do anónimo das ruas e vielas, é o melhor postal de Natal que podemos receber.<br /><br />Há, contudo, outros postais extremamente infelizes que nos chegam a casa. São os que trazem o rosto dos belos rapazes e raparigas que ganham a vida pelas bonitas ideias que vendem em certos programas de televisão. Manifestantes de estúdio, vão aos debates ou programas afins dos vários canais informativos para se exporem às luzes e às câmaras, bem maquilhados, bem penteados e bem vestidos, e, perante as câmaras gritam, capazes até de morder: <em>salvem os pobres!</em> Ao mesmo tempo que enrouquecem, os focos de luzes transforma as suas figuras angélicas em lindos postais. Quem os recebe fica decerto feliz. São postais de Natal perfumados e rubricados, que servem para enfeitar o pinheirinho, tão despido de luz. Depois da época natalícia, podem seguir para a reciclagem para serem, quem sabe, usados em novas edições da <em>Time</em>.INÊS SILVAhttp://www.blogger.com/profile/05081956552425446838noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2272954676142593597.post-49551824622218239102011-11-24T19:17:00.002+00:002011-11-24T19:18:35.112+00:0024 de novembroDesde criança que sei que os meus pais se casaram no dia 24 de novembro. Parabéns! Aos 19, fiquei a saber que a minha sogra nasceu no dia 24 de novembro. Parabéns! No ano passado, percebi que o dia eleito para a greve geral é o 24 de novembro. Para… ?<br /><br />Contudo, sei de outras coisas. A 24 de Novembro, os meus pais iniciaram um projeto de vida, a minha sogra deu início à sua vida mas a greve geral tem-se ficado pela meia-noite. No ano passado, não chegou a ir até ao dia 25. Será que a de hoje vai mais além? Trará o fim da corrupção? Da fraude? Da mentira? Da desonestidade? Do enriquecimento ilícito? Da compra da Justiça pelos ricos? Dos concursos públicos viciados? Da incompetência dos que se julgam competentes? Da fuga ao fisco? De todos os empecilhos à realização pessoal, social e profissional dos portugueses?<br /><br />Como não há duas sem três, que venha a de 2012. Mudam-se os governos, passam os anos, a greve repete-se!INÊS SILVAhttp://www.blogger.com/profile/05081956552425446838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2272954676142593597.post-47156752773600748392011-11-07T15:48:00.002+00:002011-11-07T15:54:31.629+00:00Simplesmente bom e bem feitoA melhoria das condições de vida é um dos fatores que tem levado o homem a severas transformações sociais, económicas e até políticas. E é para isso que ele luta e trabalha. Por detrás dessas condições de vida está a ideia de felicidade. No fundo, o que o move é a felicidade. Mas, por vezes, ela não está onde julga estar – no mais complexo, no mais acessível, no mais confortável. Também não está na precariedade, na fome, na ignorância, claro. Pode simplesmente estar naquilo em que se acredita ser bom e bem feito.<br /><br />Quando eu andava na escola primária (na altura assim designada), os alunos usavam bata para disfarçar as roupas que traziam dos irmãos ou dos vizinhos mais abastados. Note-se que já ninguém ia roto ou descalço. Mas as camisolas eram mais curtas nas mangas e as calças tinham em baixo as marcas de bainhas descidas vezes sem conta. Quando se rasgavam nos joelhos, levavam um remendo, às vezes em forma de boneco. Nos intervalos, corria à volta da escola, sem gradeamento, no meio do pó branco, chapinhava nas poças de água, subia a um ou outro morro e ia até à casa de banho, pequena, sem apetrechos. O lanche era pão com manteiga que levava de casa e leite aquecido pela auxiliar numa grande panela de alumínio, servido em copo de plástico por uma concha. Todos bebiam leite e comiam pão. Houve um ano em que serviram bolachas de água e sal e queijo, mas nem todos gostavam. As crianças da altura estavam mais habituadas a sopas e a outras comidas quentes. Frio, só mesmo o pão. Não havia bolicaos nem donuts nem kinders. A pequena bolacha Maria aquecia-se na boca, ao ser mastigada devagar. Ia-se a pé para a escola de pasta de uma só cor: castanha, azul, ou preta (na altura não havia mochilas com super-homens ou barbies). Sendo uma pasta, servia para levar os livros e cadernos e era o que bastava. As horas dentro da escola, por vezes com chuva a cair em certos cantos, eram passadas a ler textos (todos os dias e em vários momentos), a fazer exercícios de compreensão textual, exercícios de caligrafia, exercícios de ortografia, redações e mais redações, reduções e outros problemas de matemática. Aliás, não havia uma tarde em que não se resolvessem problemas de matemática no quadro, lembro-me bem (e eu que não gostava de matemática! Paciência, minha filha!). Às vezes, às sextas, fazía trabalhos manuais (ou de expressão plástica, como queiramos chamar). Tudo isto só com uma professora. Não conheci outros na escola primária. <br />A música era dada no recreio, quando as rodas se faziam acompanhar por canções ritmadas, que já eram cantadas no tempo dos pais. A natação era treinada quando corríamos à chuva. A atividade física era muito acentuada: vários quilómetros de corrida e de bicicleta, subida a árvores e a telhados de casas velhas, cambalhotas no chão do quarto, nos intervalos dos trabalhos de casa, vários saltos a pé coxinho e metros e metros de saltos em altura. Não conseguia engordar à custa de tanto treino. E quanto mais fazia mais o corpo pedia.<br /> <br />Deus nos livre voltarmos a este tempo!<br />Hoje é bom ver as escolas coloridas, as mesas de trabalho coloridas, as mochilas coloridas, os dossiês, estojos, pastas, canetas coloridas. As roupas coloridas e sem remendos. As casas de banho bem apetrechadas. Os recreios vedados, vigiados, com escorregas. Horas marcadas para a atividade física, para a música, para o inglês, para o judo, para as TIC. Nas aulas, espaço próprio para as expressões (plástica, dramática…). No fundo, espaço para vários saberes, de vários agentes. Nas mochilas, espaço para materiais escolares, manuais escolares, fichas de trabalho para as aulas, para casa. Em casa, espaço para as fichas das férias…<br /><br />O investimento foi grande. O esforço tem sido grande. <br />Deus nos livre sairmos deste tempo.<br />O que aconteceria se voltássemos ao tempo do trabalho efetivo de leitura, de escrita e de matemática nos cadernos diários e no quadro preto, do simples pão com manteiga e do leite aquecido na panela? E das batas? E das poças de água? E da atividade física feita nas ruas e vielas? <br />Não aguentaríamos. Ninguém, com consciência, estaria preparado para isso. Nem eu, nem os professores, nem os pais, nem a sociedade. Só mesmo as crianças, porque nasceram simples e não recusam a simplicidade do que pode ser bom, quando bem feito. Mas essas não têm voto na matéria. <br /><br />Texto publicado no Correio da Educação<br />ce@asa.leya.comINÊS SILVAhttp://www.blogger.com/profile/05081956552425446838noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2272954676142593597.post-57998909892149516192011-10-08T22:36:00.006+01:002011-10-08T22:48:41.668+01:00Soneto do nosso tempo<br />com rima interpolada e emparelhada nas quadras<br />e cruzada nos tercetos.<br />Verso decassilábico.<br /><br /><br />$ $ $ $ $ $ $ $ $ $<br />€ € € € € € € € € €<br />€ € € € € € € € € €<br />$ $ $ $ $ $ $ $ $ $<br /><br />$ $ $ $ $ $ $ $ $ $<br />€ € € € € € € € € €<br />€ € € € € € € € € €<br />$ $ $ $ $ $ $ $ $ $<br /><br />$ $ $ $ $ $ $ $ $ $<br />€ € € € € € € € € €<br />$ $ $ $ $ $ $ $ $ $<br /><br />€ € € € € € € € € €<br />$ $ $ $ $ $ $ $ $ $<br />BANCAR R O T AINÊS SILVAhttp://www.blogger.com/profile/05081956552425446838noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2272954676142593597.post-72954407625036051752011-10-07T22:00:00.001+01:002011-10-07T22:11:01.816+01:00Steve JobsCada manhã cada mulher e homem inventam o seu dia até chegar a noite.<br />Depois passam a tarde a rever o que fizeram até àquele minuto.<br />Este vai-se escoando sem dar de si, desmaiado.<br />É um detalhe que passa despercebido.<br />E logo chega a noite, que entra de mansinho. <br />Ninguém quer que ela entre. <br />Ela bem bate à porta, com batidas ritmadas.<br />Mas ninguém mexe no trinco.<br />Até que se cansa e deixa de bater.<br />Só que a noite não precisa que lhe abram a porta para entrar.<br />Entra e serve-se de cada homem e de cada mulher.<br />E assim passou o dia, entre uma manhã de projetos e uma noite que não se quer projetada.<br />A tarde foi de dormência.<br />Steve Jobs disse um dia a alguém: <br />“O seu tempo é limitado.”<br />“Tenha coragem de seguir o seu coração”.<br />Steve Jobs gostava de detalhes.<br />Jamais a noite o trincará.INÊS SILVAhttp://www.blogger.com/profile/05081956552425446838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2272954676142593597.post-83702269348830866222011-09-27T23:35:00.003+01:002011-09-30T00:05:05.849+01:00Duas formigasNuma varanda cheia de sol, duas formigas carregam uma casquinha verde. <br />Grande o esforço, a motivação, a persistência. <br />Para onde a levam? <br /><br />Parece pesado o que transportam.<br />Ou são os restos mortais de um inseto, ou uma pequena semente, ou qualquer outra coisa. <br />E lá seguem elas, arqueadas. Se fossem humanas, pingariam suor.<br /><br />Hum…<br /><br />A varanda está limpa, sem folhas caídas, sem pó da rua…. <br />O que fazer com as formigas e a carga? Dar-lhes um chuto, um sopro ou pisá-las?<br />…<br />Deixá-las ir.INÊS SILVAhttp://www.blogger.com/profile/05081956552425446838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2272954676142593597.post-3864113613272318412011-09-26T21:21:00.004+01:002011-09-26T22:58:38.634+01:00Meses depoisParei de escrever neste espaço por uns meses. Razões? Muitas e muito poucas.<br />Foi precisamente no tempo de um verão pouco caloroso, pouco simpático.<br /> <br />Há uma mãe que é confrontada com a doença de um filho. Tão depressa cai ao chão como tem de se erguer. O movimento é brusco e pesado. Mas logo arranja forças para levantar as mãos ao céu e perguntar: porque não vieste para mim, ó doença? E ela lá da terra, responde: porque a cruz de Cristo, assim, é maior.<br /><br />Há uma portuguesa que vai ver um jogo entre o Benfica e o F C Twente, a pedido do filho. O verão aqueceu um pouco, nessa tarde. Saem os jogadores para a arena. A portuguesa, adepta de outro clube (vestígios de uma infância em que todas as crianças sabiam gritar goooooooooolo, na esperança de virem a marcá-los na fase adulta, dentro de uma baliza que se chama vida), torceu pela equipa do seu país, pelos jovens portugueses. Mas qual não foi o seu espanto quando constatou que a jogar com a camisola encarnada não estava um único jogador português… No fundo, estivera no Estádio da Luz a assistir a uma partida entre duas equipas estrangeiras, sem o saber. Nesse momento, o sol refugiou-se nas colinas. É triste ver que os nossos jovens não podem marcar golos em Portugal, e que tenham de procurar balizas (vidas) lá fora.<br /> <br />Há uma cidadã do mundo que viaja até Macau para um encontro de Língua Portuguesa. Na universidade de Macau, onde decorreu o simpósio, fala-se português; nas ruas e praças, a identificá-las, há placas em português; a escola portuguesa, revestida de bonitos azulejos, tem avisos, livros e inscrições em português. Vestígios da nossa governação durante centenas de anos. Mas os taxistas não sabem português, os rececionistas dos hotéis também não e muito menos os milhares que lá moram, excluindo-se aqui alguns emigrantes portugueses, como de resto acontece noutros lugares do mundo. A questão é: saberá o povo lusitano repor as placas em português, quando estas, de velhas, caírem ao chão? <br /><br />Seria bom que percebêssemos o quanto útil é pegarmos todos numa pá e cimento para reconstruirmos o que é nosso, a começar pela língua portuguesa no mundo. Atrás desta, vem a cultura, e a seguir a alma. E é a alma de ser português que valoriza os portugueses que jogam (e também os que ficam a ver).<br /><br />Desculpem a redundância do adjetivo “português”. Mas é um forma de dizer “estou de volta”. Tal como o outono.INÊS SILVAhttp://www.blogger.com/profile/05081956552425446838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2272954676142593597.post-88245520305388568552011-06-17T14:31:00.002+01:002011-10-07T22:30:45.628+01:00CopiarCopiar<br /><br />Copiar num teste é desonesto, todos nós sabemos. <br /><br />Copiar é uma prática errada que começa logo no ensino básico, acentua-se no ensino secundário e, se não for desincentivada pelos professores, que devem imediatamente anular perguntas, grupos de perguntas ou mesmo testes, e ter uma conversa séria com os alunos, continua a verificar-se mais tarde, no ensino superior. Se é compreensível no básico, em que a criança e o jovem procuram afirmar-se desafiando as regras estabelecidas, como forma de “dar a volta” ao adulto, para mostrar que são mais espertos, que controlam tudo e que se desenrascam na perfeição, já o jovem universitário devia pensar que copiar é um sinal de fraqueza, desonestidade e fraude. Devia, ainda, perceber que assim não vai longe, porque não avalia efetivamente os seus conhecimentos e competências, o que é imprescindível para diagnosticar as suas dificuldades, de forma a colmatá-las. Estamos a falar de crescimento pessoal e social dos indivíduos.<br /><br />Mas quando se tira uma licenciatura e se continua a copiar nos testes e provas exigidas pela vida académica ou profissional, sem que haja punição, que mensagem se transmite aos estudantes portugueses no geral?<br /> <br />Aos que estudam e se esforçam, sem copiar, diz-se “que parvo que és!”<br /><br />Aos que não estudam muito, nem nunca estudaram, mas também não se dão ao trabalho de fazer cábulas, pergunta-se “porque não copias, para passares ou subires a média?”<br /><br />Aos que copiam, já crescidinhos, sussurra-se “que chico esperto que és!”.<br /><br />É preferível, de facto, e vistas as coisas linearmente, ter um país de chicos espertos em vez de um país de parvos. Mas não nos esqueçamos que estes “constroem” e os outros “destroem”. Basta o sopro de um chico esperto para desmoronar um país de parvos.INÊS SILVAhttp://www.blogger.com/profile/05081956552425446838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2272954676142593597.post-22729214161514224822011-06-04T09:31:00.002+01:002011-10-07T22:30:45.628+01:00A violênciaPrimeiro surgiram as imagens filmadas por um jovem, inicialmente publicadas por ele no facebook. Do domínio privado passaram ao domínio público num instante. Toda a gente as viu nos canais de televisão e na internet. Toda a gente virou a cara perante tamanha violência: uma adolescente a ser brutalmente espancada por duas jovens. Toda a gente sentiu repulsa. <br />Seguiu-se o vídeo sobre militares a agredirem brutalmente um colega. Durante dias, encheram os ecrãs por todo o lado. As falas dos agressores foram transcritas, para que nada escapasse aos telespectadores. Todos viram. Todos se agoniaram. Todos se indignaram.<br />Em terceiro lugar, mas não se pense que lhes serve a medalha de bronze num pódio de violência, cobardia e demência, chegaram as imagens facultadas por um vídeo amador que, do lado de fora, conseguiu captar a violência existente numa creche ilegal. A câmara não viu o que se passava lá dentro, no meio da casa, no meio do coração das crianças, no meio do peito das mulheres adultas, escolhidas pelos pais para respeitar e amar os seus filhos. A câmara simplesmente conseguiu filmar uma mulher louca a dar socos a crianças pequenas. Portugal, habituado a ver estas imagens deploráveis vindas de países estrangeiros, ficou horrorizado, chocado, à beira de um ataque de nervos.<br />As imagens entram, de facto, na casa das pessoas, sem pedir licença. Uma, duas, três vezes. E até mais. À primeira vez, os espectadores viram a cara para o lado. À segunda, já conseguem ver mais um pouco. À terceira, ganham coragem para ver tudo. À quarta já os seus olhos estão habituados. E a habituação leva à leveza. Do horror passa-se ao mau. Da violência punida pela lei, chega-se ao conceito de agressão própria “dos adolescentes mais rebeldes” ou “dos militares habituados a uma certa cultura de agressividade” ou ainda dos “loucos ainda por diagnosticar” (coitados!).<br />A familiaridade advinda da repetição desenfreada das imagens leva a uma reflexão mais mansa, a uma capacidade de atuar mais permissiva, a uma maior desculpabilização do que não tem desculpa.<br />Toda a gente viu estas curtas-metragens de horror. Toda a gente reagiu. E a seguir?<br />Poucos são os que olham à sua volta e procuram analisar o que se passa fora do ecrã da televisão, questionando-se: como educo os meus filhos? O que faço para travar comportamentos violentos? Como interajo com os educadores/professores que os acompanham diariamente? Sou exigente com eles ou deposito-os de manhã na sua sala e vou buscá-los à noite, sem coragem para a avaliar o dia? Qual a diferença entre a agressividade própria de um jovem (militar ou não) e a violência das suas ações? Como tutor, pai, professor, comandante, etc., quantas montanhas movo para acompanhar a formação pessoal e social do meu educando?<br />O problema está fora dos ecrãs. O problema está na casa de cada um, na escola e nas instituições. Mas é mais fácil desviar a cara perante as imagens que outros filmaram, para acabar por aceitar a banalidade proporcionada por um canal de televisão que concorre com o vizinho. A discussão fica para mais tarde, numa sociedade que tende a afundar-se na ignorância e na hipocrisia.INÊS SILVAhttp://www.blogger.com/profile/05081956552425446838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2272954676142593597.post-85519825841217866092011-05-15T20:01:00.001+01:002011-10-07T22:31:08.321+01:00Solução para os problemasO problema, a questão difícil, o entrave, a dificuldade, que precisa de um tratamento racional para ser resolvido, chega a casa de todos, sela ela palácio ou casebre.<br /><br />Chegou a França, país orgulhoso de si, que gosta de manter no exterior a imagem condizente com o seu nível sócio-cultural e económico...<br /><br />Chegou a França e manchou a sua imagem.<br /><br />E chegou, não trazida pelo vento, mas por um nome sonante da esquerda francesa, de um apoiante do povo, crente na igualdade de oportunidades, na justiça, no bem comum, na união da Europa.<br /><br />Dominique Strauss-Kahn surge hoje na comunicação social não por ser o presidente do FMI e candidato à presidência da França nas eleições de 2012 mas sim porque foi preso em Nova Iorque por agressão sexual. Foi denunciado por uma funcionária de um hotel, a alegada vítima.<br /><br />Ele criou um problema na vida desta mulher de 32 anos. Ela, denunciando o crime, também lhe criou um problema.<br /><br />O problema de Strauss-Kahn é fácil de resolver. A imprensa de hoje adiantou uma pista para a solução: <em>embora de esquerda, Strauss-Kahn gosta de ostentação e de riqueza</em>. Ou seja, tem dinheiro, muito dinheiro. Pode pagar cauções e contratar os melhores advogados.<br /><br />Já a funcionária de hotel, a que foi agredida sexualmente, jamais conseguirá resolver o problema que viveu. O horror, a humilhação, a violência física e psicológica que a assolaram não têm remédio.<br /><br />O político que defendia o povo virou-se contra ele. Sim, porque ela é uma das do povo, das que Strauss-Kahn teoricamente protegia nos congressos e campanhas, como forma de fazer currículo profissional e político. Contudo, a realização das ideias de justiça, verdade e solidariedade caíram por terra, na prática, dentro de um hotel, longe das luzes da ribalta.<br /><br />Não haverá equidade na resolução destes dois problemas criados hoje, simplesmente porque um caiu num palácio e o outro num casebre.<br /><br />Os problemas que surgem nos palácios resolvem-se. Basta pintar as paredes com tinta fresca. Os que aparecem nos casebres corroem as paredes, sendo estas de carne e osso.INÊS SILVAhttp://www.blogger.com/profile/05081956552425446838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2272954676142593597.post-51030137513692842352011-05-11T15:52:00.000+01:002011-10-07T22:31:08.321+01:00A EuropaA Europa não está para brincadeiras.<br /><br />A Europa tenciona deixar de emprestar dinheiro aos países que apenas lhe dá por garantia o sol redondo e caloroso do céu, quando o turista o vem sentir na pele.<br /><br />A Europa, longe de uma política imigratória digna e tolerante, tende a discriminar imigrantes e cidadãos de outras etnias, como os ciganos.<br /><br />A Europa cada vez mais recusa estender a mão aos imigrantes dos países do norte de África e do Médio Oriente.<br /><br />A Europa tende a dividir-se em duas: a dos países nórdicos e a dos países do sul. Isto é, a grande Europa e a pequena Europa. E a pequena Europa só é salva se a grande Europa entender que vem lucro do salvamento. Caso contrário, haverá afogamento certo.<br /><br />Neste instante em que reflito sobre a Europa, lembro uma história que me foi contada numa aula, por um professor, estava eu no básico (na altura <em>unificado</em>). Ouvi-o atentamente, porque sempre adorei ouvir histórias, mesmo as mais enfadonhas, e hoje recordo apenas os contornos desta, passados todos estes anos:<br /><br />Nos anos 70, o professor em causa resolveu conhecer um país próximo de nós e com muitos de nós: França. Procurou visitar os locais turísticos de interesse e também tomar contacto com os emigrantes e com as suas condições de vida, o que foi fácil. Em todo o lado, dizia, estava um português, que logo me reconhecia pela minha forma de atuar, de cumprimentar, de falar. Aliás, falava-se português por todo o lado!<br /><br />Houve um dia especial. Serviu para que se percebesse o que era a Europa de então.<br /><br />Junto à entrada de uma piscina pública, lia-se o seguinte cartaz: <em>proibida a entrada de cães e de portugueses. </em><br /><em><br /></em>Chocante? Sem dúvida. Mas preparemo-nos: o maior choque está para chegar, já no século XXI.INÊS SILVAhttp://www.blogger.com/profile/05081956552425446838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2272954676142593597.post-19539496482414576662011-05-06T15:16:00.003+01:002011-10-07T22:31:08.322+01:00Infeliz paísFinalmente as medidas da troika. No início, quando foram divulgadas pelo primeiro-ministro, parecia que tudo se mantinha: os ricos continuariam a ser ricos, os pobres continuariam a ser pobres, os desempregados manter-se-iam neste estado... Tudo na mesma. Alívio para muitos, desconforto para alguns, desilusão para quem vai pensando na vida.<br /><br />Entretanto, é anunciado mais um aspeto, não pelo primeiro-ministro (espelho meu, espelho meu, quem é mais belo do que eu?) mas pelo ministro das finanças que, como vai sair, não tem imagem a manchar. Assim sendo, acaba por reconhecer que o desemprego vai crescer nos próximos anos. <br /><br />Esta consequência das medidas diz muito pouco aos portugueses.<br />Quem está empregado e tem anos de serviço (o que pode não ser sinónimo de competência e profissionalismo) poderá continuar empregado.<br />Quem está a contrato poderá continuar a ser maltratado.<br />Quem já está desempregado ficará de certeza na mesma. <br />Quem luta por um primeiro emprego continuará obviamente a emigrar.<br />…<br /><br />De facto, este infeliz país não deixará de o ser: os ricos continuarão ricos, os pobres manter-se-ão pobres e os desempregados flutuarão no pântano do desemprego. A novidade inerente ao “aumento do desemprego” é quase nula. Talvez haja um pormenor a assinalar: os que roçam a pobreza, porque ainda não se deixaram cair nela, acabarão por lá ir parar. Só que estes, quando se virem ao espelho, desempregados e injustiçados, hão de chamar à cena a riqueza do seu espírito para reabilitar palavras de outrora:<br /><br />Mas cuidado, miladi, não se afoite,<br />Que hão-de acabar os bárbaros reais;<br />E os povos humilhados, pela noite,<br />Para a vingança aguçam os punhais.<br /><br />E um dia, ó flor do Luxo, nas estradas,<br />Sob o cetim do Azul e as andorinhas,<br />Eu hei-de ver errar, alucinadas,<br />E arrastando farrapos – as rainhas!<br /><br />Cesário Verde, poeta português do séc. XIXINÊS SILVAhttp://www.blogger.com/profile/05081956552425446838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2272954676142593597.post-48970556095290405122011-05-02T14:40:00.001+01:002011-10-07T22:29:43.620+01:00“Mataram Bin Laden”Dia 1 de Maio: domingo santo, marcado por ter sido o dia da mãe, o dia da beatificação de João Paulo II, o dia da primeira comunhão da minha filha e o dia do trabalhador, se se entender (como entendo) que o trabalho é uma bênção, um renascer todos os dias. Por isso, este dia UM pode associar-se à criação, à retidão e verticalidade dos homens, ao “ponto de partida” para a sua completude.<br /><br />Dia 2 de maio: a imprensa portuguesa anuncia que “mataram Bin Laden” e que o presidente dos EUA disse ao mundo que o chefe da Al-Qaeda, Osama Bin Laden, foi morto no Paquistão por serviços especiais norte-americanos. Segundo a Renancença, “Líder da Al-Qaeda não estava escondido numa gruta nas montanhas do Paquistão, mas antes num complexo de luxo, onde estava acompanhado pela sua mulher mais nova” e, de acordo com a Lusa, "A notícia da morte de Osama bin Laden é um grande alívio para todos os povos do mundo. Osama bin Laden foi responsável pelas piores atrocidades terroristas do mundo como os ataques de 11 de Setembro (2001) e tantos outros atentados que tiraram a vida a milhares de pessoas, entre os quais muitos britânicos", declarou David Cameron, citado num comunicado dos seus serviços. A SIC informa ainda que “EUA festejam a morte de Bin Laden”.<br /><br />Verifica-se, pois, que as notícias da imprensa de hoje, de que dei curtos exemplos, se resumem a estas informações, com mais ou menos pormenores.<br /> <br />“Mataram Bin Laden” significa que puseram termo à sua vida.<br /><br />Nada é dito sobre a doença.<br /><br />“Bin Laden” é um tipo de cancro. Tem raízes, que só se arrancam indo mais longe… aos valores da humanidade. <br /><br />Sem se atacar a doença pela raiz, não há razões para grandes anúncios, nem para grandes festejos. Porque o “ponto de partida”, associado ao UM, pode passar a ser o início de uma espécie de jogo de ping pong, cuja pequena bola (ou bala) terá a função de ir eliminando arbitrariamente os únicos seres vivos capazes de a travarem –os homens. <br /><br />Sem se atacar a doença pela raiz, a verticalidade deixará de ser um sinal distintivo dos seres humanos, que passarão a rastejar.INÊS SILVAhttp://www.blogger.com/profile/05081956552425446838noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2272954676142593597.post-73608453021925167672011-04-29T23:29:00.001+01:002011-10-07T22:31:08.322+01:00AscoAsco, nome comum que significa repugnância física, involuntária, podendo ser acompanhada de vómito; sentimento de repulsa por aquilo que se considera moralmente reprovável; nojo, aversão, desprezo, repugnância.<br /><br />Mourinho disse que sentiu asco da vida que levava – a vida do futebol.<br /><br />A ideia que Mourinho comummente passa é a de que consegue o impossível. <br /><br />Foi considerado o melhor treinador do mundo.<br /><br />Enche o ecrã dos portugueses numa publicidade que mostra o seu rosto na totalidade, traço por traço, contorno por contorno. Nem os reis e imperadores conseguem tanto…<br />É grande, este profissional de futebol.<br /><br />Teve tudo, na vida do futebol.<br /><br />Continua a ter tudo, na vida do futebol.<br /><br />Mas…<br />… não foi capaz de evitar o sentimento da injustiça, que é sempre involuntário e imprevisível. Chega incontrolável como o vómito. E não há nada a fazer. <br /><br />Ele sentiu injustiça e disse-a ao mundo.<br /> <br />Disse-a, através da palavra asco. <br /><br />Asco - não há palavra mais forte para dizer que, afinal, nunca se tem TUDO. Basta um minuto para involuntariamente se sentir o NADA. Basta sentir injustiça.INÊS SILVAhttp://www.blogger.com/profile/05081956552425446838noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2272954676142593597.post-90754463339404438182011-04-28T19:48:00.002+01:002011-10-07T22:31:08.322+01:00As sete maravilhas<div align="justify">Foram ontem anunciadas pelo primeiro-ministro demissionário as sete futuras maravilhas de Portugal. Vestido de camisa branca e gravata lisa [com uma cor perfeita para a TV], proferiu um programa muito bem escrito, que consistiu na apresentação das sete medidas a aplicar no país, num futuro próximo. </div><br /><div align="justify"><br />O público começou por aplaudir, antes mesmo de conhecer a primeira. </div><br /><div align="justify"><br />A expectativa era grande.<br /></div><br /><div align="justify">Eis que, de cabeça virada ora para o teleponto da direita ora para o da esquerda, não fosse escapar-lhe alguma letra, e com a mão direita ora para cima ora para baixo, como aprendeu nos bastidores, o locutor refere o desafio número um. </div><br /><div align="justify"><br /><strong>“Educação em primeiro lugar”.</strong> </div><br /><div align="justify"><br /><em>Aplausos<br />Aliás, fortes aplausos</em><br /></div><br /><div align="justify">Educação em primeiro lugar - a primeiríssima medida das sete, anunciada pelo primeiro-ministro demissionário. Mas houve mais: </div><br /><div align="justify"><br /><strong>"Aumento da escolaridade obrigatória."</strong><br /></div><br /><div align="justify"><em>Mais aplausos</em><br /></div><br /><div align="justify">[- Ops ! Mas esta já é velha… - Diz em segredo um militante a outro.<br />- Schiu! – Responde-lhe o outro a medo. – O que interessa? Olha o público embevecido pela figuraça dele. Nem reparou].<br /></div><br /><div align="justify">Mas houve muito mais:<br /></div><br /><div align="justify"><strong>"Educação em primeiro lugar".</strong> </div><br /><div align="justify"><br />Novos e renovados <em>aplausos</em>. Ninguém percebeu a repetição. </div><br /><div align="justify"><br />Finalmente, e depois de as restantes seis medidas terem sido propagadas num discurso retórico sonante, as três palavras-chave: <em>rumo</em>, <em>equipe </em>e <em>programa</em>! </div><br /><div align="justify"><br /><em>Maravilhosos aplausos enchem a sala </em></div><em><br /><div align="justify"><br /></em>Já agora, senhor primeiro-ministro, conhece o <em>rumo</em> que a escola está a tomar? Conhece alguma <em>equipe</em> de trabalho ligada à educação? Sabe o que é um <em>programa</em> curricular?</div><br /><div align="justify"><br />As respostas não estavam no teleponto.<br /></div><br /><div align="justify">Quem se esqueceu de as escrever? Quem?... Muito bem. Será o próximo a sair das listas.<br /><br /></div>INÊS SILVAhttp://www.blogger.com/profile/05081956552425446838noreply@blogger.com0