segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Meses depois

Parei de escrever neste espaço por uns meses. Razões? Muitas e muito poucas.
Foi precisamente no tempo de um verão pouco caloroso, pouco simpático.

Há uma mãe que é confrontada com a doença de um filho. Tão depressa cai ao chão como tem de se erguer. O movimento é brusco e pesado. Mas logo arranja forças para levantar as mãos ao céu e perguntar: porque não vieste para mim, ó doença? E ela lá da terra, responde: porque a cruz de Cristo, assim, é maior.

Há uma portuguesa que vai ver um jogo entre o Benfica e o F C Twente, a pedido do filho. O verão aqueceu um pouco, nessa tarde. Saem os jogadores para a arena. A portuguesa, adepta de outro clube (vestígios de uma infância em que todas as crianças sabiam gritar goooooooooolo, na esperança de virem a marcá-los na fase adulta, dentro de uma baliza que se chama vida), torceu pela equipa do seu país, pelos jovens portugueses. Mas qual não foi o seu espanto quando constatou que a jogar com a camisola encarnada não estava um único jogador português… No fundo, estivera no Estádio da Luz a assistir a uma partida entre duas equipas estrangeiras, sem o saber. Nesse momento, o sol refugiou-se nas colinas. É triste ver que os nossos jovens não podem marcar golos em Portugal, e que tenham de procurar balizas (vidas) lá fora.

Há uma cidadã do mundo que viaja até Macau para um encontro de Língua Portuguesa. Na universidade de Macau, onde decorreu o simpósio, fala-se português; nas ruas e praças, a identificá-las, há placas em português; a escola portuguesa, revestida de bonitos azulejos, tem avisos, livros e inscrições em português. Vestígios da nossa governação durante centenas de anos. Mas os taxistas não sabem português, os rececionistas dos hotéis também não e muito menos os milhares que lá moram, excluindo-se aqui alguns emigrantes portugueses, como de resto acontece noutros lugares do mundo. A questão é: saberá o povo lusitano repor as placas em português, quando estas, de velhas, caírem ao chão?

Seria bom que percebêssemos o quanto útil é pegarmos todos numa pá e cimento para reconstruirmos o que é nosso, a começar pela língua portuguesa no mundo. Atrás desta, vem a cultura, e a seguir a alma. E é a alma de ser português que valoriza os portugueses que jogam (e também os que ficam a ver).

Desculpem a redundância do adjetivo “português”. Mas é um forma de dizer “estou de volta”. Tal como o outono.

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