quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Espanha

Málaga, meados de agosto de 2012. O centro histórico enche-se de gente no início da tarde. As mulheres vestem o traje de flamenco e os homens o de campino. O calor humedece-lhe as roupas. Bebe-se. Bebe-se muito. O pavimento das ruas, à força do suor e do álcool caído dos copos e garrafas, forra-se de uma substância pegajosa. Chap, chap… mas não é por isso que os sapatos não avançam, não circulam, não dançam. A catedral olha a força do divertimento. As discotecas, de portas abertas, convidam os menos lúcidos. Os bares e restaurantes oferecem tapas. Os turistas pedem pimentos, tortilha de batata e peixe frito. É a força do espanhol que sai à tarde para, à noite, redobrar-se na Feira Cortijo de Torre.

Valência, finais de agosto de 2012. A tomatina, em Bunõl, salpica de vermelho os que nela querem dominar. Quer seja por crer no tomate, quer seja por curiosidade, quer seja por acidente, os que percorrem as ruas no molho do fruto do tomateiro redobram o ânimo, engordam a coragem, enaltecem o ego. Os turistas riem-se com os espanhóis e estes fazem-nos rir. Não se sabe quem, no passado, atirou o primeiro tomate a ponto de criar a tomatina. Mas quem quer saber isso? Se alguém o fez, fê-lo bem. Basta ir ao Google ler as propriedades do tomate.

Madrid, setembro de 2012. A festa continua. Sem trajes, sem tapas, sem alegria. As praças e ruas enchem-se de jovens que gritam “Basta!”. São empurrados do parlamento pela polícia. Chegam também os pais e os avós dos que gritam “Basta!”. São igualmente empurrados do parlamento pela polícia. A televisão mostra uma mãe. “Os nossos filhos estão a trabalhar no estrangeiro. Os que não foram e têm emprego temem que ele acabe”, diz. É empurrada do parlamento pela polícia. O parlamento é mantido limpo, sem substância pegajosa nos acessos e sem tomate nas paredes. Igual ao de Lisboa. Outubro, 2012. Que a limpeza fique nos ecopontos e não nos pontos-chave da democracia.

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