sábado, 29 de setembro de 2012


O professor catedrático Alberto Amaral, ex-reitor da Universidade do Porto, deu a sua última lição na Faculdade de Ciências deste estabelecimento de ensino, noticiou a TSF, e confessou estar «envergonhado» com a herança que o país deixa «às novas gerações».

Ingressei na Universidade do Porto, no curso que escolhi em primeiro lugar, Línguas e Literaturas Modernas, variante de Estudos Portugueses, era então Alberto Amaral o reitor. Eu estava decidida a estudar Linguística, Literatura Portuguesa, Literatura Brasileira, Literaturas Africanas, Literaturas orais e marginais, Literatura Italiana, História Portuguesa, Cultura Portuguesa, etc., etc... para poder dedicar a minha vida ao ensino das letras, embora a tendência na altura já caísse para o lado da gestão, da economia e da finança. No entanto, o lucro fácil e a ascensão social canina ainda não era o pilar da vida da sociedade e a universidade do Porto, numa expansão extraordinária, deu-nos disso sinal. As letras tinham o seu lugar. Pudemos investir nas humanidades. Saímos professores orgulhosamente bem formados, para formar bem os nossos jovens.

Hoje, há que reconhecê-lo, as letras são menosprezadas e estão a ser abandonadas. As letras não enchem barriga, dizem-nos. Há professores a mais, há investigadores a mais… O país não pode com tanto. Claro. Claro.

Professor Alberto Amaral, também eu me sinto envergonhada com a herança deixada às gerações que aí vêm. No entanto, quero que saiba que o seu esforço não foi em vão.  No que me toca, luto e lutarei pelo vigor das letras, remando contra todos os que as acham inúteis. Ainda os hei de ver, no futuro, muito mais envergonhados do que nós, quando quiserem um professor que ensine as primeiras letras aos filhos e netos e tenham de o pedir emprestado ao estrangeiro, com juros insuportáveis.

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