sexta-feira, 6 de maio de 2011

Infeliz país

Finalmente as medidas da troika. No início, quando foram divulgadas pelo primeiro-ministro, parecia que tudo se mantinha: os ricos continuariam a ser ricos, os pobres continuariam a ser pobres, os desempregados manter-se-iam neste estado... Tudo na mesma. Alívio para muitos, desconforto para alguns, desilusão para quem vai pensando na vida.

Entretanto, é anunciado mais um aspeto, não pelo primeiro-ministro (espelho meu, espelho meu, quem é mais belo do que eu?) mas pelo ministro das finanças que, como vai sair, não tem imagem a manchar. Assim sendo, acaba por reconhecer que o desemprego vai crescer nos próximos anos.

Esta consequência das medidas diz muito pouco aos portugueses.
Quem está empregado e tem anos de serviço (o que pode não ser sinónimo de competência e profissionalismo) poderá continuar empregado.
Quem está a contrato poderá continuar a ser maltratado.
Quem já está desempregado ficará de certeza na mesma.
Quem luta por um primeiro emprego continuará obviamente a emigrar.


De facto, este infeliz país não deixará de o ser: os ricos continuarão ricos, os pobres manter-se-ão pobres e os desempregados flutuarão no pântano do desemprego. A novidade inerente ao “aumento do desemprego” é quase nula. Talvez haja um pormenor a assinalar: os que roçam a pobreza, porque ainda não se deixaram cair nela, acabarão por lá ir parar. Só que estes, quando se virem ao espelho, desempregados e injustiçados, hão de chamar à cena a riqueza do seu espírito para reabilitar palavras de outrora:

Mas cuidado, miladi, não se afoite,
Que hão-de acabar os bárbaros reais;
E os povos humilhados, pela noite,
Para a vingança aguçam os punhais.

E um dia, ó flor do Luxo, nas estradas,
Sob o cetim do Azul e as andorinhas,
Eu hei-de ver errar, alucinadas,
E arrastando farrapos – as rainhas!

Cesário Verde, poeta português do séc. XIX

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